Postado por: Eduardo Roberge Goedert outubro 06, 2011


"Ao torcedor é permitido perder a razão, ser desponderado, agir incoerentemente. O torcedor se comporta conforme seus instintos, de maneira ilógica. Em um dia, ama; noutro, odeia. É, pois, passional".

Tal absurda regra popular, sabe-se, é constantemente difundida pelos meios de comunicação nacionais, figurando como verdade absoluta no universo futebolístico. As incoerências que corriqueiramente revestem as atitudes de uma torcida, numa desequilibrada gangorra comportamental, são invariavelmente toleradas, justificadas numa alegada passionalidade do torcedor, como se este fosse um homem-de-neandertal.

Dentro dessa tendência ao comportamento irracional, facilmente verificável em situações periclitantes como a que vivemos no presente, chama a atenção a inconsequência de indivíduos que, em nome daquela passionalidade fajuta, vaiam, xingam, fazem escárnio, abandonam a causa ou até mesmo torcem contra o Avaí, sem perceber, no entanto, que sua fúria atinge ninguém exceto eles próprios.

O torcedor que age da maneira descrita, desassociando-se do clube porque temos Daniel na lateral direita, torcendo contra porque desaprova Dirceu na linha de zaga ou deixando de ir ao jogo porque nosso time é péssimo, imagina, ingenuamente, que está ferindo seus desafetos com sua conduta reprovadora. Pensa ele, sem pensar, que sua ira, além de legítima, é eficaz. Não consegue vislumbrar, entretanto, que o único homem a ser atingido por seus atos é ele mesmo: auto-flagela-se, na fantasia de estar causando prejuízo aos que odeia.

Em um curto espaço de tempo, Zunino estará ampliando sua cadeia de laboratórios em um local distante, Daniel desfilará nos campos da segunda divisão do Azerbaijão, Dirceu estará jogando por algum clube-empresa da terceira divisão paulista, Romano estará onde Judas perdeu as botas e Cleverson estará plantando aipim em algum minifúndio do Acre. Nenhum deles carregará qualquer cicatriz por conta da campanha ridícula que protagonizaram. Todos irão pra bem longe, viverão suas vidas, receberão seus salários, encontrarão êxitos e fracassos noutros lugares, esquecer-se-ão dos dias que envergaram a camisa do Avaí Futebol Clube.

Adivinhe quem é que pagará a conta de todo o fracasso. Quem ficará com as ruínas de um ano catastrófico nas mãos?

Justamente o sujeito que vaiou, xingou, escarneceu, abandonou a causa ou até mesmo torceu contra seu escrete. "Com Daniel na na lateral direita eu não volto à Ressacada, pois não vou para ver esse time ruim", dizia cheio de razão, sem sequer cogitar que, ao contrário de Daniel e do time ruim, ele tinha realmente algo valioso a perder. Recusou-se a apoiar os vermes que transitoriamente vestiam a camisa azul e branca, acreditando que isso lhes feriria, mas, no final, será o único atingido pela tragédia.

O impulso instintivo, natural dos animais, nos empurra ao esperneio, à raiva dos que estão em campo e diretoria. Todavia, a racionalidade nos obriga realizar a desvinculação da instituição Avaí dos que temporariamente a representam. Esqueçamos dos infelizes que hoje vestem o manto sagrado. A camisa azul e branca, que não tem culpa dos incompetentes que a vestem, será a única a aqui permanecer conosco. O resto todo passará, menos nós e o Avaí.

Relembremos toda a história de quedas e superações que passamos para chegar onde sempre sonhamos. É absurdo e irracional atirarmos a toalha por conta de insignificantes seres que por ora vestem azul, mas que amanhã serão apagados de nossa história, para depois nós mesmos termos de enfrentar as consequências danosas de nossos atos. Não nos auto-flagelemos: os únicos que realmente tem algo a perder somos nós, somente nós.

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